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domingo, 16 de novembro de 2008

Mais sustentabilidade do idoso

Com as novas preocupações sobre sustentabilidade e a novíssima ausência geral de dinheiro pode vir a aumentar entre os mais jovens uma aversão materialística aos idosos, aposentados, considerados improdutivos e portanto insustentáveis, e essa aversão se tornar uma fonte de conflito entre gerações. Um novo rito parecido com o da montanha de Narayama pode vir a ser criado pelas várias tribos jovens. Uma perspectiva devastadora.
Um grande problema é mudar a imagem dos idosos no inconsciente coletivo, tornando-os mais amados, e criar condições para que em todo o Brasil floresçam lugares onde êles possam se sentir empoderados, úteis, saudáveis, independentes e felizes. As unidades do SESC, por exemplo, fazem êsse trabalho maravilhosamente.
Há esperança. Os novos idosos de nossas famílias estão mais jovens, tem saúde e são atuantes. Até nas novelas, as maiores fontes de referência dos brasileiros, as mesmas atrizes e atores nos acompanham fazem quarenta anos, e nas suas interpretações nos passam posições de empoderamento, bom senso, crescimento e felicidade. (7)
Aspectos da vida do idoso
Minha neta linda aos onze anos ‘despreza’ pessoas velhas. Os jovens valorizam a informação, metabolizam informação. Margaret Mead, em ‘A universalidade do fosso das gerações’ dá alguma razão a ela: ‘Hoje, não se encontra em nenhum lugar do mundo pessoas mais velhas que sabem o que as crianças sabem, por mais distantes e simples que sejam as sociedades onde vivem essas crianças’(8)
Nenhum adulto de hoje sabe do nosso mundo o que dele sabem as crianças nascidas no decorrer dos últimos vinte anos.(8)
O volume de saber científico duplica a cada quinze anos (8).
A velocidade em que as coisas acontecem duplica a cada dois anos segundo a surpreendente Lei de Moore (Gordon Moore, fundador da Intel - 1965 in Wikipédia) (9).
Como os jovens se alimentam de novas informações e acham que idosos são fossilizados, conversar com idosos hoje não os maravilha ou entusiasma. Para Harry Porter os únicos adultos interessantes são os bruxos e os mágicos. Os demais, não passam de quadrados, caretas, dessinteressantes, não valem a pena (22).
Os estereotipos de declínio mencionados e de falta de adequação dos idosos são perigosos porque são aceitos a priori, sem nenhuma discussão. A sua avaliação crítica é omitida. Estão inseridos em nosso cérebro. Diferentemente dos estereotipos sobre genero ou raça, recebemos as informações negativas sobre o envelhecimento antes que o nosso envelhecimento aconteça. Pesquisas demonstraram que crianças começam a desenvolver estereotipos negativos sobre o envelhecimento com menos de 8 anos de idade, com a mesma idade que desenvolvem estereotipos negativos sobre raça e sexo. Como esses estereotipos são aprendidos antes que eles se apliquem a nós, nós os internalizamos sem questionar a sua veracidade. Essa forma de percepção é difícil de mudar, mesmo quando os exemplos posteriores forem contrários (6).
Nos adultos idosos os sentimentos negativos sobre a velhice ficam ainda mais negativos do que eram no tempo da juventude. Consequentemente essas profecias levam a processos psicológicos pelos quais as profecias passam a acontecer por si sós, para se auto-cumprirem. Se outras pessoas acharem que o problema com envelhecimento existe para alguem, aumentará em 50% a probabilidade que êle se manifeste naquela pessoa(10).
O doloroso do estereotipo de velhice é a internalização da informação pelos adultos idosos, que criam a evidência onde ela não existe. Os adultos ficam mais vulneráveis. Os idosos internalizam a informação que são impotentes para tudo. A família e os amigos também tratam o idoso como se fosse limitado e impotente. (10)

7. Novelas - entre outras:
Belíssima – Globo – Fernanda Montenegro; Irene Ravache, Lima Duarte, Tony Ramos
Duas Caras – Antonio Fagundes, Renata Sorrah, Marília Pêra, Beth Faria, Suzana Vieira, Stênio Garcia.
Laços de Família – Globo – Regina Duarte, Tarcísio Meira, Glória Meneses
A Grande Família – Marco Nanini, Marieta Severo
A Favorita – Glória Menezes, Tarcísio Meira, Milton Gonçalves, Mauro Mendonça, Ary Fomtoura
8. Jean-Claude Forquin Relações entre gerações e processos educativos:
transmissões e transformações Congresso Internacional Co-Educação de Gerações - SESC São Paulo outubro 2003
9. Gordon Moore, fundador da Intel - 1965 in Wikipédia.
10. Handbook of Health Psychology and Aging por Carolyn M. Aldwin, Crystal L. Park, Ronald P. Abeles, Avron Spiro Contributor Carolyn M. Aldwin, Crystal L. Park, Ronald P. Abeles, Avron Spiro publicado por Guilford Press, 2007 ISBN 1593850573, 9781593850579
11. Star Trek série de televisão, 1966, dirigida por Gene Roddenberry
12; Doris Lessing – Time Bites – Harper Perenial – 2005
13. Dr. Marshall Rosenberg – Speak Peace in a World of Conflict -2004 – Puddle Dance Press – http://www.cnvc.org/ e http://www.nonviolentcommunication.org/
Gaia Education
14. in Emmanuel Lévinas, ensaios e entrevistas, copilado por François Poirié – Edição Perspectivas – 2 007.
15. Margaret Atwood – Moral Disorder and other stories – Nan A. Talese -Doublelay – 2006
16 Maria 0 personagem de Liv Ullman em Gritos e Sussurros, filme de Ingmar Bergman, 1972.
17 – Sheriff Ed Tom Bell, personagem de Tommy Lee Jones no filme No Country for Old Men, dirigido por Joel e Ethan Cohen, 2007
18. Frank Herbert – Dunne
19 . Leadership in Circles -Manitoquat – Elder do Assonet Band da Nação Wampanoag in Beyond You and Me – Gaia Education
20 - Cornelia Featherstone – Healthy Living in Community – Beyond You and Me – Gaia Education
21 Jonathan Freeland – The Guardian, 31 de outubro de 2007 - Ministers seeking inspiration should talk to Pam about prewar Peckham
22. Eduardo A. Furtado Leite - Adolescência e Velhice, um Comentário desde a Mídia Contemporânea. Congresso Internacional Co-Educação de Gerações SESC São Paulo outubro 2003
23 - JOHN LELAND - In ‘Sweetie’ and ‘Dear,’ a Hurt for the Elderly – The New York Times October 7, 2008.
24 - http://www.bookrags.com/Maggie_Kuhn

sábado, 15 de novembro de 2008

SUSTENTABILIDADE DO IDOSO
Beatriz Vera Pozzi Redko
Introdução
No fim do século dezenove, no Japão, em uma luta para a sobrevivência consequente da miséria e das guerras, os moradores dos vilarejos, ao completarem 70 anos eram obrigados a ir para o topo de uma montanha local, um lugar sagrado, e lá esperar pela própria morte (1).
O mundo mudou desde então, ficou muito mais afluente, os idosos não se matam mais para que os outros vivam, e tem um poder aquisitivo considerável. A população do mundo está envelhecendo. O mundo que era de jovens está quase se transformando em um mundo de velhos. Em 2.050 uma em cada cinco pessoas do mundo será idosa. (2)
No Brasil em 2000 existiam quase quinze milhões de idosos, 8,6% da população, e em 2020 poderão existir mais de trinta milhões, 13% da população segundo o IBGE.(2)
A medida que o Brasil se desenvolve ele assume tambem as características dos países desenvolvidos: mais mulheres educadas, e como consequência, menor fertilidade, melhor alimentação, melhor tratamento médico, maior longevidade. A proporção de idosos está crescendo mais que a população de crianças. O Brasil está mudando de um país de jovens para um país de velhos (2).
Em 1980 o Brasil tinha 16 idosoa para cada 100 crianças, em 2000 eram 30 idosos para cada 100 crianças. Em um levantamento feito em 2 003 apenas 6% dos idosos pesquisados não tinham filhos, contra os 35 % sem filhos no restante da população pesquisada (3). Isso poderá ser um problema futuro, pelo aumento dos idosos sem assistência familiar.
Nos dias de hoje o poder aquisitivo dos idosos brasileiros é muito grande: êles injetam anualmente mais de 150 bilhões de reais na economia, sendo 30,4% dos brasileiros economicamente ativos. 84% dos idosos tem renda própria, sendo um alvo interessante para a oferta de produtos e de serviços(4).

A Balada de Narayama – Filme - Shoei Imamura -1983
Dados do IBGE obtidos no site www.novavida.com.br/amelhoridade
Fundação Pérsio Abramo – Idosos no Brasil – Vivência, Desafios e Expectativas da 3ª Idade – 2007 - http://www2.fpa.org.br/portal/modules/news/index.php?storytopic=1642
Gazeta Mercantil – 25.05.2006 – O poder de consumo da terceira idade
5. Neide Duarte - Co-educação de gerações - Congresso Internacional Co-Educação de Gerações SESC São Paulo outubro 2003
6. Media and Cultural Theory: edited by James Curran and David Morley By James Curran, David Morley -Contributor James Curran, David Morley Published by Routledge, 2006 - ISBN 0415317053.
Existe um problema: idoso como idoso, com cara de idoso, não é considerado modelo positivo para ninguém (5). Foram criado vários estereotipos negativos com relação aos idosos: perda de saúde e declínio das funções físicas e cognitivas, adultos idosos são considerados físicamente não atraentes, mentalmente incompetentes, lentos, esquecidos, vagarosos, fracos, tímidos, fixados nas próprias manias (6).